Talvez noutra vida possa te encontrar
e atravessar-te os cabelos
com minhas mãos frias,
os lábios colados aos teus,
o vento atravessando
meu vestido –
um clichê de novela
ainda assim, um bom clichê.
Talvez me recebas
num altar de sonhos
para onde caminharei descalça
sobre a areia,
flores trançadas nos cabelos,
música do Chico tocada num violão.
Talvez a outra vida aconteça
nesta mesma sem projetos
e cesse a angústia de esperar
por outra chance, outra carne,
à mesma alma
no mesmo conflito por duvidar-se imortal.
Hoje, resta-me, ao fim dos dias,
a lembrança quente em minha cama
do teu verbo,
do teu sorriso,
enquanto às minhas mãos urge
a vontade de aninharem-se entre seus fios
e de correrem a lã da tua camisa.
Hoje, em mim, a vontade de abraçar-te é maior do que ontem.
Ah, se não vivesses ao longe…
quem sabe uma nova vida
eu pudesse encontrar
não tão longe de agora
mas agora mesmo?