Sobre as areias dos dias constrói-se a casa, com portas e janelas abertas para o sol. Pintam-se as paredes com as cores claras dos planos futuros e das histórias vividas. Com alegria, finaliza-se o trabalho, abrindo-se, com as próprias mãos, uma estrada larga em frente ao cenário construído.
Esquece-se da força do mar, cuja presença pode ser serena quando invade os caminhos alargados da estrada. Mas há vezes em que, chegando à porta da construção, derruba uma parede, recolhendo-se para compor uma onda ainda maior. A onda mais forte, de uma só vez, funde casa, muro, estrada e chão sobre o qual se desenhava todo o projeto.
Então, como um banhista de qualquer praia, aceita-se humildemente a inevitável força da natureza e abandona-se por um tempo toda a obra. Mergulha-se no mar, luta-se contra a correnteza nos dias de cautela ou entrega-se a uma onda mais generosa nos dias brandos.
De volta à meta traçada, recomeça-se. Com a mão, com a ajuda de pás e objetos de ponta, imprime-se à frágil obra contornos mais reais até o momento em que nova onda surpreenda o escultor. E, depois, outra e outra até que, definitivamente, destrua-se por inteiro a arquitetura sonhada.
Só lhe restará mergulhar e abandonar o mar, pisando a areia em direção à margem, embora puxem-lhe as ondas. Continuar em direção à rua – segunda margem – onde caminhar exige menos força e torna mais fácil manter-se em equilíbrio.
Sobram-lhe o som do mar e as vozes confundidas daqueles que o cercavam. Sobra-lhe o vento agitando-lhe os cabelos e a ponta da toalha, jogando-lhe areia contra a pele já coberta de sal.
Mais tarde, resgatará, no percurso de volta à casa, a lembrança morna do vento. E minutos antes de adormecer, poderá ouvir o mar se aproximando e fugindo.
Já não haverá castelos sobre a areia. Mas a incessante vontade de construí-los, sempre que os vir serem desmontados.
“…De volta à meta traçada, recomeça-se”
“…incessante vontade de construí-los…”
Agora digo:
“É verdade que tudo tem seu devido fim. Na realidade vi num dia desses que todo fim tem seu começo e todo começo tem seu fim. Não há bem que sempre dure, ou mal que nunca acabe.”
É difícil a missão de fazer o inicio do fim não ser de todo ruim, é árdua e nos toma o ar que teimamos em querer inspirar.
Mas talvez nesse momento não exista outro caminho a se seguir. É preciso ter pulso forte, coração tranquilo e uma decisão firmada para conseguir chegar a qualquer lugar ou simplesmente não ir a lugar algum. Mas para ter pernas, poder caminhar para onde quer que se deva, é preciso, antes de mais nada, ter Fé. Não perca a sua!!!
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Daí a “incessante vontade de construí-los”…rsrs. Obrigada, Vanessa, por suas palavras e por seu carinho. Bjs.
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