Não foi o jeito como chegara, jogando no chão da área a bolsa da academia. Nem o silêncio contínuo enquanto ela lhe contava os problemas do condomínio, já debatidos, já resolvidos nem bem a noite começara. Não lhe notara a impaciência por estarem guardadas no fundo do armário as roupas que ele vestiria após o banho.
Sentados à mesa do jantar, foi seu olhar que o denunciou. Seu olhar através da mesa arrumada com a toalha de linho e bordado nordestino; através da carne que garfou num gesto automático e frio; através do rosto da mulher de pele cuidada, aberta em sorrisos e cheiros de festa, usando o perfume que dele ganhara. Foi seu olhar esvaziado de foco que mostrou a ela que algo ruim se anunciaria: a notícia de uma doença, uma grande perda patrimonial ou a morte de uma pessoa amada.
Guardando as louças no armário da cozinha, preparou-se para enfrentar na sala o elemento transformador que intuía. Ela era pacata, gostava da rotina, mantinha em ordem a casa e o trabalho, cercava-se de carinhos. Por isso, embora muitas vezes distraída no percurso, soube reconhecer quando se aproximou a tempestade.
Mas enfrentou-a sem vacilar. Sentou-se ao lado do homem no sofá, permitindo que ele lhe dissesse o que ela temia ouvir.
Ele a deixaria no fim daquela noite. Mas ela se lembraria, futuramente, que fora uma noite comum, que a comida estava deliciosa, que ele estava bonito com a camisa que fora presente seu, o que a deixara especialmente alegre.
Ele confessaria que deixara de amá-la meses antes, quando percebeu a necessidade de uma vida de novas emoções que o afastasse do medo de envelhecer e de acabar. Mas só se recordaria que ele falava palavras tristes e sem sentido, enquanto ela lamentava mais por vê-lo desnorteado do que por tê-la excluído das novas experiências que desejava viver.
Ele confessaria que a amara mais do que jamais amaria qualquer outra mulher. Ela só ouviria que seu amor não fora suficiente.
Separou as coisas que eram suas – muito poucas só suas – para levá-las embora quando amanhecesse. Deitou-se ao lado da mulher, abraçando-lhe entre lágrimas silenciosas de uma dor que não saberia explicar.
Ela o amaria pela última vez, intensamente, afastando-se para sempre assim que ele deixasse a casa, também no rumo de suas próprias experiências. E ele, quando recordasse essa noite, não se lembraria mais por que partira. Só que se amaram e que a vida se confundira em sentidos que nunca mais ele pode encontrar.
Ana você emocionando sempre a gente ao escrever… Continue assim. Bj. Osvaldo Caninas
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Nossa, Osvaldo, que alegria ver que você passou por aqui. Obrigada pelo incentivo. E tb pela divulgação. Bj grande.
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Aninha querida, vc consegue escrever coisa lindas.E eu sei qual foi a inspiração.
Te amo!
Grande beijo.
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Alzira, lendo o q vc escreveu me lembrei de uma canção do RC q diz assim: “as histórias todas são iguais/eu apenas faço delas mais/uma canção de amor…” Obrigada pela força. Aliás, não só aqui mas na minha vida, sempre. Tb te amo muito! Bjks.
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Lindo e triste!!!! Sempre gosto do que escreve……. bjks
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Aileen, querida, vc está virando leitora assídua. rsrs. Vc não sabe como agradeço o carinho. Bj grande.
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Minha querida ………………………….Vou te ligar!!Bjs.
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Aninha,
a velhice nos dá a serenidade. Algumas pessoas, infelizmente acreditam no “canto da sereia”. Meu pai fala isso com muita propriedade. Na vida sempre aparecerão dois caminhos, um aparentemente leve e outro espinhoso. Devemos refletir e não acreditar neste canto. A juventude vai embora e em substituição ganhamos a expertise da vida, a maturidade para vivermos plenamente.
Hoje, muitos homens e mulheres estão acreditando deste canto, a “sereia” aparece e promete a juventude eterna. Fui criada para viver como as estações do ano. No verão, a juventude; o inverno a velhice e as outras estações a preparação para elas. Poupa-se no verão para gastar no inverno. Esses homens e mulheres que querem viver e disfrutar emoções que muita das vezes já deveriam tê-las feito, terão ainda um caminho muito longo para trilhar. Que eles seja muito felizes e aprendam a serenidade da vida porque a velhice é inexorável e o tempo finito.
Beijos de sua amiga que te ama
Natália
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Obrigada pelas palavras carinhosas. Também te amo. E sei do q vc fala qdo fala da estabilidade, do porto amigo, das nossas referências maiores. Lembra-me nossa conversa sobre a nova etapa das vida dos nossos pais. Beijos, querida.
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